ISRAEL GOMES DE LIMA
Maestro
O anúncio da chegada do Salvador ao mundo, trouxe novas perspectivas de renovação da esperança em dias
melhores para os homens na terra.
A preparação para acolher
nos braços o menino Deus, o prometido Emanuel, a ansiedade para mirar os olhos
naquele que nos promete a salvação, certamente foi a emoção que invadiu Maria e
José.
Esse sentimento, sem
dúvida, foi o mesmo que acometeu o tenente Dário Gomes Patriota e sua esposa
Tertuliana Martins de Oliveira no dia 24 de Dezembro de 1912 quando receberam
nos braços seu filho Israel, enviado por Deus para dar a luz aos que nele quisessem
enxergar as notas musicais.
Aqui em Carnaíba, no
Bairro de Carnaíba Velha, de propriedade do seus pais Israel Gomes de Lima enxergou
o mundo pela primeira vez.
Ainda criança revelou aptidão pela música e aos 8 anos de
idade começou a estudar com o maestro Zé Queiroz e aos 9 anos já subia num
tamborete para fazer suas apresentações.
Seu primeiro instrumento foi o clarinete seguido da
requinta e do sax, sendo esse ultimo o seu favorito.
Na escola tradicional estudou até a 3° série,
aproveitando esse ensino de qualidade da época para bem administrar as
dificuldades de leitura e os cálculos da Matemática.
Logo mais, descoberto o seu gosto pela música, e o
empenho para aprender bem, foi notado pelo regente da Banda Filarmônica Santo
Antônio de Carnaíba, sendo convidado para compor essa entidade, tocando
Bombardino.
Logo cedo revelou-se estudioso da música, aproveitando
todos os momentos para ler, no que foi aprimorando seus conhecimentos musicais.
Rapaz moço, casou-se com Laura Mendes de Lima, começando
a constituir sua família com os filhos Sônia Maria, Carlos, Dário, Anchieta
Patriota e Silvana Maria.
Reconhecendo que a música somente não lhe daria condição
de viver e manter sua família, conseguiu ingressar na Secretaria da Fazenda do Estado,
efetivando-se como Agente Arrecadador, ou seja, Fiscal de Mercadoria em Trânsito.
Os tempos passaram e Israel Gomes passou a ser
reconhecido como um grande músico e como havia necessidade de maestros para
ensinar música à juventude carnaibana, o mesmo foi indicado e por suas mãos
passaram grandes aprendizes que no futuro seriam grandes músicos como: Beto
Amaral, Dinamérico Lopes, Expedito de Sula, Geraldo Campos, Severino Henrique,
os irmãos Toinho e Deda Martins, Severino Caguim, Edmilson Lopes, Toinho
Barbosa, Cacá Malaquias, Vianney Mendes e tantos outros.
Seu trabalho notável atraiu a atenção de outros
municípios e entre um momento e outro da história política de Carnaíba,
ofereceu seus préstimos aos municípios de Buique, Arcoverde, Caruaru, Custódia,
Afogados da Ingazeira, Serra Talhada, Flores, Triunfo, onde estabeleceu grandes
vínculos de amizades e reconhecimento ao seu trabalho, sendo que em Carnaíba
trabalhou por mais tempo, quase toda sua vida.
Nas suas horas vagas dedicava-se a ler, ouvir música no
rádio e principalmente produzir belas composições, a exemplo da Marcha de Santo
Antônio, a melodia do hino de São João Maria Vianney, Sônia Maria e Silvana
Maria dedicadas as suas filhas, o Frevo Pai me dê 100, dedicado ao seu filho
Anchieta Patriota, Zedantas Filho e Sublime Revelação que fez para o grande
amor da sua vida, a esposa Laura Mendes, entre outras composições.
Inspirado compositor, seu trabalho pautou-se em músicas
sacras, dobrados e valsas.
Como maestro, formou grandes bandas de carnaval, tocando
em várias cidades, bem como orquestras de baile e conjuntos animadores de
circos que visitavam a cidade.
Sua grande preocupação com a família a quem dedicou todo
o seu amor, era que seus filhos trilhassem por uma profissão que não fosse a
música, embora todos entendam dessa arte, porque na época não oferecia grandes
vantagens e o que ele desejava era encaminhá-los bem na vida, usando até um
dito popular quando se referia a causa: “eu vendo até o facão da cozinha para
formar meus filhos, principalmente se for em medicina”.
Como cidadão carnaibano, também envolveu-se nos
movimentos políticos da época, incentivando seu concunhado Milton Bezerra das
Chagas conhecido como Milton Pierre, então primo legitimo do governador Etelvino
Lins, para encabeçar a luta pela Emancipação Política de Carnaíba, obtendo
sucesso em 30 de dezembro de 1953, quando Carnaíba é desmembrada do município
de Flores.
Ficou viúvo em 1963 e a partir daí estabeleceu uma rotina
para desabafar seu sentimento de nostalgia, diariamente, às 18:00 horas, tocava incansavelmente belas valsas,
certamente preenchendo a saudade da sua companheira, momento de sensibilidade
para carnaíba que o ouvia e partilhava daquele momento dolente, de lágrimas, com
respeito e admiração.
Foi um grande colaborador e prestativo quando chamado em
benefício das festas carnaibanas. Sentimental, era tomado de emoção quando
tocava ou ensaiava alguma música que lhe trazia saudosas recordações, chegando
até a chorar de emoção.
Foi um mestre rigoroso e exigente da perfeição quando se
tratava de ensinar música, mas Deus entendeu que sua missão estava cumprida e,
como o salvador do mundo, numa sexta feira da paixão em 20 de Abril de 1973, foi
chamado para o céu.
Assim, seu ciclo de vida se cumpriu quando vivia 60 anos
de juventude, porque quem executa ou aprecia a boa música nunca envelhece, e
jamais será esquecido, será sempre lembrado como um eterno jovem.
Escrito por: Maria Margarida
Pereira Amaral de Lira, em 24 de Dezembro de 2012.
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