INTRODUÇÃO
Queridos
irmãos, nesta biografia de São Sebastião, mártir de Cristo, temos o objetivo,
não só de narrar o desenrolar de sua preciosa existência, mas principalmente
de refletirmos juntos sobre sua vida no contexto de nossos dias, buscando
pontos de encontro, semelhanças, atitudes e testemunhos acontecidos entre
ele e nós. Sentimo-nos alegres, pois, juntamente conosco, mais de 350 Paróquias
espalhadas por esse Brasil, invocam São Sebastião como seu Padroeiro e neste
mesmo dia, iniciam o novenário em preparação a sua festa, celebrada liturgicamente
no dia 20 de janeiro.
Viva
São Sebastião!
SÃO
SEBASTIÃO - UM BATALHADOR DA FÉ
Nesta
novena procuraremos responder a pergunta: "Mas quem foi mesmo São Sebastião?"
E ainda: "O que ele tem a dizer a nós cristãos do Novo Milênio?" Refletindo
bem, iremos perceber que a vida deste santo poderia ter se passado ontem
ou hoje mesmo, aqui, no nosso Brasil ou até em nossa comunidade. Com efeito,
e uma nota característica da Igreja, em todos os tempos, ser perseguida
e sofrer o martírio. Nos dias atuais esta realidade se faz presente de maneira
bem acentuada. Quem decide viver a fundo a opoção preferencial pelos pobres,
deve estar disposto a "perder a sua vida"por causa do Evangelho.
VAMOS
REFLETIR JUNTOS:
Começando
a nossa reflexão, podemos dizer que não existe católico que não tenha ouvido
falar, ao menos uma vez, a respeito de São Sebastião. De fato, o nosso santo
padroeiro foi um cristão que se tornou famoso por sua valentia e coragem,
nos primeiros tempos da Igreja. Nasceu em Narbona, uma cidade perdida no
imenso império romano, que então dominava o mundo. Hoje ela ainda existe.
Encontra-se no sul da França, que naquela época fazia parte da província
das Gálias.
ENTREMOS
NA NARRATIVA:
Diz
a história que, quando Sebastião era ainda pequeno, sua família mudou-se
para a cidade de Milão, bem mais próxima de Roma, que era a capital do Império.
Ali morreu o seu pai, ficando o menino entregue aos cuidados maternos. A
sua mãe era cristã, e isto não era tão comum naquela época, lá pelo ano
284. Os cristãos eram perseguidos como inimigos do Estado pelo fato de não
adorarem aos deuses pagãos. Todos os que adotassem essa nova religião seriam
aprisionados e lhes eram confiscados os seus bens.
Daí então, a mãe de Sebastião, sendo cristã, transmitiu ao filho o dom da
fé cristã. Fé vivia e verdadeira que nos compromete em tudo e sempre. Assim
começa a história de um santo, início de uma vida como de qualquer vida.
A PERSEGUIÇÃO
Faz
muito tempo que Sebastião viveu; tantos séculos atrás, no alvorecer da era
cristã. Por causa de sua vida, em conflito com a dos demais, em Roma, os
cristãos começaram a ser perseguidos e Sebastião tomou uma decisão importante:
iria para Roma e tentaria ajudar os cristãos de lá, confiando na sua fé
e no prestígio que gozava como soldado fiel e corajoso.
Agora
é que começa a segunda parte da vida do jovem oficial do império. Estamos
no ano 303. Desde o ano 63, quando Nero era imperador romano, os cristãos
foram quase, ininterruptamente, perseguidos. De tempos em tempos, um imperador
declarava o extermínio sumário dos cristãos. Cada um deles decretava uma
perseguição mais feroz do que outra. A perseguição, a que nos referimos,
iniciou-se precisamente no dia 23 de fevereiro de 303 e foi ordenada pelo
imperador Diocleciano com o seguinte decreto:
"Sejam
invadidas e demolidas todas as Igrejas! Sejam aprisionados todos os cristãos!
Corte-se a cabeça de quem se reunir para celebrar o culto! Sejam torturados
os suspeitos de serem cristãos! Queimem-se os livros sagrados em praça pública!
Os bens da Igreja sejam confiscados e vendidos em leilão!"
Por
três anos e meio correu muito sangue e não houve paz para os inocentes cristãos!
Sebastião,
logo que chegou a Roma, foi promovido a oficial. O imperador cativado pela
fibra e personalidade deste jovem o nomeou comandante dos pretorianos, seus
guardas-pessoais.
Um
alto cargo, sem dúvida. Cargo de confiança e de influência. No exercício
deste ofício, porém, Sebastião estava exposto aos perigos da corte. Sua
vida talvez não corresse perigo, mas sua fé poderia ser abalada e suas convicções
transformadas.
A corte
era um resumo de todos os vícios e depravações existentes no Império. O
próprio imperador Diocleciano, filho de escravos, conseguiu o poder às custas
de assassinatos. Era de uma avareza que se tornou proverbial. Os tributos,
que explorando o povo, o levaram, em pouco tempo, à extrema miséria.
Nesta
vida, dois são os caminhos a seguir e que conduzem a lugares diferentes:
existem caminhos fáceis, largos... que levam à perdição e existem caminhos
ásperos, estreitos, íngremes... que levam à salvação.
Podemos
imaginar a quantos perigos a fé de Sebastião esteve exposta. Não é só de
hoje que costumamos dizer: "O mundo está perdido!"
Para
o cristão, qualquer tempo é tempo de provação e de tentação. Em todo tempo,
porém, é preciso perseverança na virtude da fé.
De
fato, é na hora da provação que a verdade aparece transparente. É nas dificuldades
que se prova até onde vai a nossa fé em que medida somos capazes de entregar
a vida por alguém. O viver, a fundo, o Evangelho, é oferecer a própria vida,
se isso for exigido.
Durante
esse tempo de perseguição, Sebastião trabalhava na corte. Ocultava com muito
cuidado sua fé cristã, não com medo de morrer, mas para cumprir melhor o
seu papel: encorajar seus irmãos na fé e na perseverança, especialmente
os mais tímidos e vacilantes, merecendo, com isso, o título de "auxílio
dos cristãos".
Assim
sendo, muitos cristãos aprisionados e temerosos de sua morte, após ouvirem
Sebastião, sentiam-se revigorados e destemidos, prontos a enfrentar a tortura
e a morte por amor a Cristo. Não mais os amedrontava o cárcere e a crueldade
nos suplícios.
Entretanto,
havia uma razão para explicar a força que sustentava os cristãos em suas
provações e essa força era o amor, seguido do despreendimento, a fé e a
esperança em Cristo ressuscitado. Sebastião sabia perfeitamente de tudo
isso e por esse motivo passava de cárcere em cárcere, visitando e animando
os irmãos a se manterem firmes na fé, mostrando que na vida, os sofrimentos
são passageiros e que o prêmio reservado aos perseverantes na fé é eterno.
Sendo
chefe da guarda imperial, tinha livre acesso, de entradas e saídas, sem
maiores complicações. E muitos dos que ouviam suas palavras se convertiam.
Foi numa dessas visitas a presos que o carcereiro e sua mulher Zoe, alguns
parentes dos presos e demais funcionários da prisão, tiveram oportunidade
de ouvir suas comvincentes palavras.
Conta-se
que enquanto Sebastião falava, Zoe, que era muda, começou a falar. Diante
desse fato, ficaram maravilhados, o carcereiro e todos os presentes e logo
se dispuseram a aceitar a fé cristã, professada por Sebastião. Os cristãos
estavam presos, mas não a Palavra de Deus. A Palavra do Senhor, de fato,
não está acorrentada. Ela é Caminho, Verdade e Vida para todos nós!
O caminho
do cárcere era escuro, mas o cristão o alumiava com a sua fé; o lugar era
frio, mas ele o aquecia com suas preces fervorosas e cantos inspirados.
Apesar das correntes, estava, pelo poder de Deus, livre para Ele. Na pressão
esperava a sentença de um juiz, contudo sabia que estava com Deus e Ele
julgaria os mesmos juízes.
Mas
enquanto alguns resolvem iniciar seu processo de conversão, outros continuam
tramando o mal. De fato, a perseguição sistemática do imperador Diocleciano
torna-se cada vez mais violenta, exigindo dos cristãos, muita coragem e
heroísmo.
Aqui
acontece um fato que vem amenizar a vida dos perseguidos. O Prefeito da
cidade de Roma, Cromáceo, convertido ao cristianismo, demitiu-se do cargo
e começou a reunir, ocultamente, em sua casa, os recém-convertidos e, desta
forma, estes não eram molestados. Ele sabia que muitos não resistiriam ao
martírio, caso fossem presos. Então sugeriu que todos aqueles fossem para
longe de Roma. Ali estariam protegidos da feroz perseguição. Seguiam, assim,
o que Jesus havia sugerido no Evangelho: "Se vos perseguirem numa cidade,
fugí para outra!"
À medida
que aumentava a perseguição, os companheiros que Sebastião tinha instruído
e convertido à fé cristã, iam sendo descobertos, presos e mortos. A primeira
foi Zoe, esposa do carcereiro. Foi surpreendida e presa quando rezava no
túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo. Recusando prestar culto aos deuses romanos,
foi queimada e suas cinzas foram jogadas no rio Tibre, em Roma.
O sacerdote
Tranquilino, por sua vez, foi apedrejado e seu corpo exposto ao ludíbrio
popular. Ao resgatar os corpos dos mártires, vários amigos de Sebastião
foram descobertos e presos. Entre eles se achavam: Cláudio, Nicostrato,
Castor, Vitoriano e Sinforiano. Durante dias, os inimigos da fé cristã pelejaram
com eles para que renegassem a fé, mas nada conseguiram. Por fim, o imperador
ordenou que fossem atirados ao mar.
A perseverança
é a palavra chave, reveladora do segredo e do sucesso dos cristãos. Eles
redobravam suas orações e jejuns, pedindo a Deus que os fortalecesse para
o combate. Mantinham-se firmes na convicção de que é Deus quem dá a perseverança
e a vitória.
"Os
magistrados que julgam as leis do Império, aceitem todas as acusações que
se façam contra os cristãos, e nenhum apelo ou desculpa se admita na defesa
dos réus!"
Como
se vê, não havia absolutamente, direito de defesa... Os cristãos eram acusados
das coisas mais absurdas: de incendiar casas e cidades, de comer carne humana,
de querer tomar o poder e outras coisas inacreditáveis...
Sebastião
já não podia continuar ocultando sua fé, por ter se tornado luz que ilumina
a todos. E um dia alguém o denunciou ao prefeito, por ser cristão. O imperador
também foi cientificado e recebeu todas as informações. Deixar Sebastião
em liberdade representava um grave "perigo" para a cidade inteira. Então,
mandou que o chamassem para ouvir dele próprio a confirmação.
Acuado
e acusado de todos os lados, preparou-se o soldado cristão para assumir
a sua missão. Ainda podia fugir, podia voltar atrás, mas não o fez: ficou
firme em sua fé e assumiu o acontecimento iminente. Ele anunciou o Reino
de Deus, denunciou a inutilidade dos ídolos da sociedade, suas injustiças
e falsas ideologias, seus mitos e seus pecados. Tinha se comprometido e,
por isso, agora devia pagar o devido preço.
O cristão,
para ser tal, deve se assemelhar a Jesus, o servo de Javé. Sua missão é
testemunhar a Palavra de Deus que é verdade, direito, justiça, paz, fraternidade
e amor. Este testemunho porém, tem um preço, as vezes, muito alto: o cristão
é marginalizado, rejeitado por todos, até a morte.
Sebastião
percebe, no entanto, que o silêncio de Deus é somente o intervalo entre
duas palavras fundamentais: Morte e Ressurreição! Ele já está pronto para
responder, com seu sangue, às perguntas dos inimigos do bem e da verdade.
Revestido
da cintilante couraça e ostentando todas as insígnias merecidas, Sebastião
se apresenta diante do imperador que o interroga. Diante dos presentes estupefatos,
confessa sua fé e diz resolutamente ser cristão. O imperador logo o acusa
de traidor. Sebastião lembra que esta acusação é uma absurda mentira, pois
até agora tem cumprido fielmente seu dever para com a Pátria e o imperador,
protegendo-lhe a vida em muitas circunstâncias.
O imperador
estava imaginando uma forma original, diferente, de executar a sentença
de morte que iria pronunciar contra o seu mais fiel oficial. Mandou chamar
o comandante dos arqueiros de numídia, homem originário de uma região desértica
da África, onde a caça só era possível com as flechas e o incumbiu de executar
a sentença capital do oficial cristão.
O imperador
ordenou que amarrassem o soldado cristão a uma árvore, num bosque dedicado
ao deus Apolo. Que o crivassem de flechas, mas não atingissem seus órgãos
vitais, para que morresse lentamente. Assim foi feito! Com a perda de sangue
e a quantidade de feridas, Sebastião desmaiou, já era tarde! Julgando-o
morto, os flecheiros retiraram-se.
Alguns
cristãos que haviam preparado o necessário para o enterro, foram buscar
o corpo. Provavelmente subornaram os carrascos dando-lhes dinheiro para
conseguir o corpo do mártir. Qual não foi a surpresa daqueles cristãos,
quando perceberam que Sebastião respirava ainda. Estava vivo... Levaram-no
à casa da matrona Irene, esposa do mártir. Caustulo e, com muito cuidado,
foram curando-lhe as feridas.
Alguns
dias se passaram, Sebastião já havia se recuperado dos ferimentos e estava
disposto a ir até o fim. Não fora ele chamado "defensor da Igreja" pelo
próprio Papa? Se ele a tinha defendido antes, às ocultas, agora a defenderia
publicamente, para que todos pudessem escutar a defesa da Igreja, ali reduzida
ao silêncio.
Chegou
o dia 20 de janeiro. Era o dia consagrado à divindade do imperador. Este
saiu em grande cortejo de seu palácio e dirigiu-se ao templo do deus Hércules,
onde seriam oferecidos os sacrifícios de costume. Estando coroado pelos
sacerdotes pagãos e pelos homens mais nobres do império, foi concedida uma
audiência pública. Quem desejasse pedir alguma graça ou apresentar alguma
queixa, poderia faze-lo nesta ocasião, diante do soberano.
Sebastião,
com toda a dignidade que sempre o distinguiu e cheio do Espírito Santo,
apresentou-se diante do imperador e, destemidamente, reprovou-lhe o comportamento
em relação à Igreja. Reprovou-lhe as injustiças, a falta de liberdade e
a perseguição aos cristãos. O imperador ficou estarrecido ao reconhecer
naquela pálida figura, a pessoa de seu antigo oficial que o julgava morto.
Tomado de ódio, ordenou aos guardas que o executassem ali, em sua presença
e na presença de todos. Ele mesmo queria ter a certeza de sua morte.
Imediatamente,
os guardas investiram contra ele, e o moeram de pancadas com cassetetes
e com os cabos de ferro de suas lanças, até que Sebastião não deu mais sinal
de vida. O imperador ordenou, então, que o cadáver do oficial traidor fosse
jogado no esgoto da cidade e, assim, seria apagado, para sempre, a sua memória.
Sebastião,
como todo cristão, tinha esta firme convicção: se Cristo ressuscitou, todos
nós ressuscitaremos com Ele, pois, pelo Batismo, fomos incorporados ao seu
corpo glorioso. A morte já não é o fim, não é o ponto final e definitivo.
Ela foi superada, tornou-se apenas uma porta para a verdadeira vida!
Neste
caminhar, um mistério nos ultrapassa, a saber participar da vida de Cristo,
significa despojar-se de si mesmo e aceitar cooperar com sua missão essencial
de salvação, que passa pela cruz e pela morte. Assim como nenhum cabelo
de nossa cabeça cai sem que Ele o permita, nenhum fato ou acontecimento
escapa ao seu conhecimento.
Durante
a noite, um grupo de cristãos foi até o local onde o corpo de Sebastião
tinha sido jogado. Os homens desceram à muralha que cercava o canal, pelo
qual corria o esgoto da cidade. Com o rio Tibre estava na vazante, o corpo
de Sebastião ficara preso a um ferro. Levado para a catacumba, ali foi enterrado
com todas as honras as honras e veneração dos cristãos, aos quais ele tanto
servira e amara.
São
Sebastião, por tudo aquilo que fez e enfrentou, é um santo muito popular.
É invocado como protetor contra a peste, a fome, a guerra e todas as epidemias.
Mas de onde vem esta devoção?
Entre
os antigos, as flechas, eram símbolos da peste pelas feridas cancerosas
que provocavam. Assim sendo, a piedade cristã, sabendo que em seu primeiro
martírio Sebastião havia sido sufocado por uma saraivada de flechas, escolheu-o
para ser protetor contra o flagelo da peste, epidemia arrasadora, especialmente
nos tempos passados, mas que ainda hoje é bastante temível.
Mas
foi no ano 680, quando uma grande peste vitimara toda a Itália, que os fiéis
recorreram a São Sebastião, fazendo voto de erigir uma Igreja a ele dedicada,
se a peste cessasse. E a peste realmente cessou! Desde então, São Sebastião
passou a ser invocado contra a peste e suas irmãs a fome e a guerra.
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